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segunda-feira, 27 de outubro de 2008

27/10 - Crise pode representar oportunidade para setor têxtil e de confecção

Fernando Pimentel
Diretor-Superintendente da Associação Brasileira da Indústria Têxtil e de Confecção (Abit). Ele avalia que produção nacional têxtil e de confecção poderá ser beneficiada.

Divulgação ABIT

Brasília - O sistema financeiro internacional permanece em situação crítica. A cotação do dólar oscila diariamente, fechando acima do valor cambial praticado no Brasil nos últimos anos. Essa situação, no entanto, pode gerar oportunidades para empresas brasileiras, especialmente para as integrantes da cadeia produtiva têxtil e de confecção. A concorrência dos produtos asiáticos, agora com preços mais altos devido à valorização do dólar, tende a se tornar menos ameaçadora. Essa possível oportunidade, percebida em pleno olho do furacão, foi apontada por Fernando Pimentel, diretor-superintendente da Associação Brasileira da Indústria Têxtil e de Confecção (Abit). Ele falou sobre a crise financeira mundial e seu reflexo no setor em entrevista à Agência Sebrae de Notícias (ASN). O setor têxtil e de confecção é um dos grandes concentradores de micro e pequenas empresas do País. É composto por 30 mil empresas, das quais 83,4% são microempresas e 14,9% pequenas empresas. Dezesseis mil delas são fábricas de peças de vestuário ou pequenas confecções, presentes em todas as unidades da Federação. No ano passado, o faturamento estimado dessa cadeia produtiva foi de US$ 34,6 bilhões, com taxa de crescimento de 4,85% em relação a 2006, quando faturou US$ 33 bilhões. As exportações atingiram US$ 2,4 bilhões e as importações US$ 3 bilhões, no mesmo período. O setor representou 17,5% do PIB da indústria de transformação e cerca de 2,4% do PIB total brasileiro, em 2007. O setor gera 1,6 milhão de empregos diretos, dos quais 75% correspondem a mão-de-obra feminina. Estima-se que cerca de 5,4 milhões de empregos indiretos e postos de trabalho também são gerados pelas empresas têxteis e de confecção. O setor é considerado o segundo maior empregador da indústria de transformação, e ainda, o segundo maior gerador do primeiro emprego no País. O Brasil é o sexto maior produtor têxtil do mundo e ocupa o segundo lugar no ranking da produção mundial de denim (tecido de algodão). Os dados são da Abit.
Leia a seguir a opinião de Pimentel:
ASN - Os efeitos da crise do sistema financeiro mundial atingiram o setor têxtil e de confecção?
Pimentel - Ainda não. Achamos, inclusive, sem querer menosprezar o impacto na economia em geral, que a produção local do nosso setor poderá ser beneficiada, quando comparada com a produção de outras partes do globo. Negócios menores e compras locais têm mais flexibilidade que as compras internacionais. No cenário que se desenha para os próximos meses, as empresas brasileiras do nosso setor poderão ter oportunidades.
ASN - Significa que o mercado interno poderá ser a saída para o setor têxtil e de confecção?
Pimentel - O comércio internacional é absolutamente imprescindível para o crescimento do mundo. No momento atual, existe a tendência de valorização das empresas próximas do mercado consumidor, enquanto prevalecer a visão de que haverá redução das atividades econômicas. Teremos de conviver com taxas de consumo mais baixas em todo o mundo, nos próximos meses. Ninguém sabe ao certo o que vai acontecer. É apenas uma tendência. Até poucas semanas atrás, a importação de produtos concorrentes em nosso setor estava abocanhando a maior fatia da demanda do consumo interno. Agora, as condições se inverteram. Hoje, com a cotação do dólar mais elevada e a incerteza, os produtos brasileiros estão mais compatíveis com a demanda interna.
ASN - O que será necessário para potencializar as oportunidades que poderão surgir?
Pimentel - Para que isso possa ocorrer efetivamente as autoridades brasileiras terão de atuar atentas e de modo a não permitir a possível presença de produtos decorrentes de mercados em retração. Temos de preservar os nossos níveis de emprego. Não podemos achar que vamos ser os ajustadores da demanda internacional. É preciso atenção para não sermos invadidos por produtos que vão receber toda sorte de incentivos em outros países. Não podemos virar moeda de ajuste da quebra de demanda do consumo internacional.
ASN - A falta de crédito preocupa?
Pimentel - Nosso setor nunca foi dependente de crédito para o consumidor final.
ASN - Qual o conselho para empresários do setor têxtil e de confecção?
Pimentel - Neste momento, a prioridade é a liquidez ou a preservação do caixa. Observar as vendas e estar atento aos prazos das vendas, também. Cuidado com créditos e prazos de venda. O mundo não vai acabar. As pessoas vão continuar a se vestir, a se calçar e a se embelezar para ir trabalhar, entre outras coisas. Certamente a produção local tem tudo para ser valorizada.
ASN - Como o senhor acompanha os passos da crise?
Pimentel - Via internet, jornais, TV e contatos internacionais. Procuro não me contaminar com o apocalipse que aparece nas notícias. Presto atenção nos movimentos macro e não descuido dos movimentos micro. O que faz o mundo girar são as empresas, os empresários e os trabalhadores.
Esta não será a última crise que vamos viver. Procuro manter a serenidade, como o momento exige. Sou um otimista realista. O problema está aí e vamos ter que conviver com ele.
Fonte: Agência Sebrae de Notícias (ASN)

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