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quinta-feira, 14 de julho de 2011

14/07– Os desafios da venda de vestuário pela Internet

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A maioria das pessoas concorda que o setor de vestuário chegou ao fim do caminho no que se refere à queda nos preços de produção. Mas será a Internet a próxima grande oportunidade dos confeccionistas reduzirem os custos da cadeia de logística?

Uma questão para a qual Mike Flanagan, CEO da Clothesource Sourcing Intelligence, uma consultora britânica especializada no setor do vestuário, dá resposta neste seu artigo.

Os preços de produção de vestuário não pararam de cair apenas porque os salários e os preços das matérias-primas estão a subindo. Esta subida verifica-se também porque esgotamos praticamente todos os benefícios de redução de custos resultantes da deslocação da produção ao longo dos últimos 20 anos.

Até ao dia 1 de Janeiro de 2009 – data em que as quotas alfandegárias foram efetivamente levantadas sobre as importações chinesas de vestuário nos EUA e a UE deixou de exigir licenças de exportação ao vestuário proveniente da China - sempre existiram limites às importações de vestuário.

Essas restrições demoraram décadas até serem eliminadas, mas, no final de 2010, os compradores ocidentais estiveram perto de conseguir o máximo possível dos baixos salários asiáticos. Mas não completamente.

As empresas asiáticas continuam a investir em novas infra-estruturas e os países importadores continuam a alterar as suas regras de importação e por isso os melhores locais para um bom valor em 2009 não serão necessariamente os melhores lugares em 2011.

A realidade é que chegamos ao fim de uma era muito longa. Durante grande parte dos últimos 250 anos, a indústria têxtil e vestuário registou uma série de inovações técnicas e legais, que tiveram o efeito de diminuir constantemente os preços da produção do vestuário.

A Revolução Industrial começou com a mecanização da fiação e tecelagem: vias ferroviárias e navios a vapor foram inicialmente desenvolvidos para acelerar o transporte de algodão dos Estados Unidos para as fábricas de Manchester.

A deslocação da produção de vestuário ao longo dos últimos 15 anos para lugares até 20.000 quilometros de distância do cliente final, foi apenas o último passo de um processo que começou em meados do século XVIII com a invenção da fiação e tecelagem mecanizadas.

Poderá realmente acontecer que, com a implementação final de um regime sem quotas em 2009, o ciclo de contínua redução de custos tenha chegado finalmente ao fim?

Bem, no que se refere à produção de vestuário, provavelmente sim. Mas é claro que a produção e o transporte do vestuário e das suas matérias-primas, são apenas uma parte do custo de uma peça de roupa.

A Gap, por exemplo, adiciona em média uma margem de 70% ao custo de uma peça de vestuário desembarcada nos EUA, para pagar o manuseamento, a armazenagem e os desperdícios, os salários das pessoas envolvidas nesses processos - e os dividendos que paga aos seus accionistas. Muitos confeccionistas adicionam uma margem ainda maior.

E, para muitos confeccionistas, houve pouca redução nos últimos 20 anos na margem que precisam para prestar os seus serviços. Assim sendo, será que o custo de confecção de vestuário vai ser a próxima área que as novas tecnologias vão revolucionar?

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Oportunidades on-line
É claro que em muitas indústrias, tal questão não vale realmente a pena ser colocada. A Amazon devastou livrarias especializadas, enquanto os supermercados e a Internet praticamente eliminaram as lojas de música convencionais. Os agentes de viagens são quase uma coisa do passado.

Mas a web teve até agora um efeito bastante diferente na venda de vestuário. De forma geral, as opções do consumidor aumentaram, tornou a compra de roupas mais conveniente e ajudou os confeccionistas a alcançarem os compradores que não conseguem chegar às lojas. Mas quase não diminuiu os custos de todo.

Para as vendas internas, o custo do correio ou entrega postal é geralmente mais caro do que manter uma loja numa localização privilegiada. Para a maioria das vendas externas, os clientes encontram-se frequentemente confrontados com uma conta que engloba direitos de importação, imposto de vendas e administração de entregas.

Confeccionistas e fornecedores de serviços têm trabalhado arduamente para tornar a aquisição de roupas via Internet mais uniforme. Mas é justo dizer-se que não existe qualquer indicação que, durante este século, uma Amazon ou Spotify possa implicar o desaparecimento iminente das lojas da Gap ou Zara.

Estaremos todos  perdendo algo gritantemente óbvio? Deve haver certamente algum empresário visionário chinês que, neste preciso momento, está construindo um armazém, onde trabalhadores com baixos salários reúnem encomendas de clientes via web, colocando-as em embalagens de transporte robustas, que serão expedidas por FedEx para que cheguem à caixa de correio de um cliente no Ohio, 24 horas mais tarde – tudo por apenas uma fracção do custo de funcionamento de milhares de lojas físicas.

Será que a fronteira final da indústria de vestuário vai ser a eliminação virtual dos custos de confecção?

Para pensar….

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