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terça-feira, 25 de novembro de 2008

25/11 - Enchentes e deslizamentos paralisam produção no pólo de Blumenau

As indústrias têxteis de Blumenau e Brusque, em Santa Catarina, tiveram as atividades suspensas ontem por conta da enchente que atingiu os municípios no fim de semana. A região abriga empresas como Teka, Hering, Buettner, Coteminas, Dudalina e Karsten, que não trabalharam, sobretudo, pela falta de energia elétrica e de funcionários, que não conseguiram chegar às unidades pelo volume de água e queda de barreiras nas estradas de acesso aos municípios.

De acordo com o presidente do Sindicato das Indústrias Têxteis do Vale do Itajai (SC), Ulrich Kuhn, as perdas de um parque fabril como o de Blumenau parado por um dia podem ser estimadas em cerca de US$ 5 milhões, considerando cerca de 3 mil empresas, incluindo as de pequeno porte. "A expectativa é que algumas empresas comecem a retomar as atividades entre o terceiro turno desta segunda-feira (ontem) e o primeiro turno de terça-feira (hoje). A retomada geral, se não houver fato novo, é na quarta-feira (amanhã)", disse.

A maioria das empresas têxteis utiliza energia elétrica para suas operações, mas há também o uso de gás natural. Algumas não sofreram corte de energia e outras vão operar inicialmente a partir de geradores. A Celesc ontem à noite ainda contabilizava 156 mil consumidores de energia sem luz em todo o Estado. Só em Blumenau eram 53,8 mil unidades consumidoras sem luz. A empresa deslocou 86 equipes, mas ontem não tinha previsão de quando seria retomada a normalidade pela dificuldade de acesso a alguns locais.

O presidente da Buettner, João Henrique Marchewsky, também enfrentou dificuldades para chegar à empresa. As duas entradas da Buettner, localizada em Brusque, ficaram comprometidas com a chuva. A água não atingiu os maquinários, mas os dois acessos foram bloqueados por barreiras e acúmulo de água. Marchewsky diz que os 1,4 mil funcionários foram dispensados e não há previsão para o retorno das atividades.

Na Karsten, com sede em Blumenau, há quatro dias a produção foi suspensa. Além do alto volume de água da cidade, a empresa opera com gás natural e está sem fornecimento desde domingo. Na Teka, também sediada no município, a produção foi suspensa no domingo por falta de energia elétrica e de funcionários. A empresa espera o reinício no primeiro turno de hoje.

Marcello Stewers, diretor de exportação da Teka, disse que a água não invadiu a empresa, ainda que esteja localizada próxima ao rio Itajaí-Açu, que corta a cidade de Blumenau. A empresa foi protegida por um muro de contenção, construído em 1985, após ter sofrido graves prejuízos com a enchente do ano anterior. Segundo Stewers, a água só entraria se o nível do rio subisse 12,40 metros. Ele atingiu na madrugada de segunda-feira, 11,52 metros. Na unidade da empresa em Blumenau trabalham 1,3 mil funcionários.

A presidente da Dudalina, Sonia Hess, estava ontem em São Paulo e disse que não conseguia contato com os seus funcionários para obter todas as informações necessárias. Os diretores não conseguiam chegar à empresa. Segundo Sonia, havia problemas com as linhas de telefone, falta de água e de energia elétrica. A Dudalina fica no bairro Fortaleza, um dos mais atingidos em Blumenau pela enchente. Sonia disse que a unidade está parada desde sábado e não há previsão para retorno das atividades. A fábrica está localizada próxima a um morro onde já houve deslizamentos durante o fim de semana. "Estou extremamente preocupada." Na unidade em Blumenau, a empresa possui 300 funcionários.

Além de Blumenau, as fábricas da Dudalina localizadas em municípios vizinhos também ficaram paradas. Caso da unidade de Luis Alves, com 200 funcionários, e da filial em Brusque, com 70 pessoas. Em 1984, ano da enchente mais forte da cidade, a Dudalina, ainda localizada no centro, sofreu perdas significativas. "Mas a enchente de agora é diferente e mais grave porque não é só a enchente em si, estão ocorrendo muitos desmoronamentos", disse Sonia. "Ainda não calculei as perdas, mas um dia no fim de ano parado equivale a três dias de outros períodos porque estávamos no auge das vendas de Natal".

Segundo informações do departamento climático estadual (Ciram-Epagri), em Blumenau já choveu em novembro 341,5 milímetros, batendo o último recorde medido pela Ciram-Epagri, que foi de 167,2 milímetros/mês em 2006.

Diretores do Banco Regional de Desenvolvimento Econômico do Extremo Sul (BRDE) pediram ontem ao Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico (BNDES) a criação de uma linha de crédito especial para atender os empresários e agricultores atingidos pela enchente, além de prorrogação de prazos para empresas que já tenham linhas contratadas.

Em Itajaí, um dos principais estragos foi no porto, que teve o berço 1 destruído pela água e os berços 2 e 3 parcialmente comprometidos. De acordo com Arnaldo Schmitt, superintendente do porto, não foi feita ainda uma análise detalhada de como se darão as operações nos próximos dias por falta de condições de acesso.

Luiz Henrique da Silveira, governador de Santa Catarina, considerou esta a "pior tragédia climática da história catarinense". Até o início da noite de ontem foram registradas 58 mortes e mais de 42 mil desabrigados. Também subiu o número de cidades isoladas: Luiz Alves, São João Batista, Rio dos Cedros, Garuva, Pomerode, Itapoa e Benedito Novo.

Fonte: Valor Econômico

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